Ani Rotza Bira!
Um exercício, mais que tudo.
21 de dez. de 2010
27 de out. de 2010
Eu queria ser o Charada.
Estudar é um processo muito complicado. Pelo menos pra mim. A minha vida inteira estudei em colégios (incríveis), mas que o estudo era quase uma coisa orgânica. Eu não tinha paranóia de virar a noite lendo textos ou fazendo cálculos loucos. Eu ia à aula, fazia os deveres de vez em quando, e sempre fui boa aluna.
Até que chegou o vestibular e não passei. Quer dizer, não é que eu não passei. Passei na PUC pra comunicação, mas eu queria UFRJ de qualquer maneira. E fiz uma pontuação bem boa, mas não dava pra entrar na ECO, já que era quase uma medicina pra humanas.
Apesar da descrença familiar falei que não ia pra PUC. Estudei a vida inteira em um colégio-particular-católico-zona-sul. Não dava pra emendar numa faculdade-particular-católica-zona-sul. queria viver outras coisas, conhecer outras pessoas. Queria UFRJ.
Passei um ano inteiro fazendo adestramento. Porque o vestibular na minha época era isso, repetir provas anteriores, fazer exercícios até a exaustão. E passei, muito bem, pro primeiro semestre. Mas ainda sem saber direito como estudar.
Na ECO então, foi uma beleza. Quem passou por lá sabe. Assistia às aulas, jogava uma sueca, lia os textos, tomava uma cerveja, matava uma aula, jogava sueca... E fui levando. Nunca repeti matéria por nota (porque por falta, ops).
Quando chegou a época da monografia fiquei um pouco perdida, mas logo me encontrei. Eu estava produzindo o meu trabalho, a minha pesquisa, com um tema que me interessava muito. Foi sofrido, como qualquer monografia, mas foi bom.
Tudo isso pra falar que agora, estudando pro mestrado, eu estou quebrando a cara! Além de mudar de área, já que meu objetivo é Antropologia, não tenho a menor disciplina pra estudar. É um desespero. Eu abro o texto, leio uma página, vou fazer café, acendo um cigarro, como um chocolate. O Twitter e o Facebook então eu tenho que deixar fechado. Aliás, o computador tem que estar desligado.
E a prova do mestrado não é um vestibular. Fiz a do IFCS e não passei. Por que? Não faço idéia, não tem resposta certa, gabarito. Provavelmente a banca achou que meus conhecimentos de ciências sociais ainda eram fracos, ou que as minhas idéias não estavam claras. Mas é angustiante não saber o porquê.
Agora estou estudando pro da UFF. Outra bibliografia, novos autores, e de novo, completamente perdida. Será que eu estudo da mesma forma que estudei pro IFCS? Lendo os textos obsessivamente e fichando? Ou relaxo e faço como no colégio? Tem um cursinho pré-mestrado?
Ainda não encontrei meu método, tá difícil. Aliás, eu deveria estar lendo ao invés de escrever aqui. A prova é dia 10 e eu ainda tenho muito texto pela frente. Antropólogos obcecados pelas ilhas do Pacífico me esperam.
Nessas horas eu sempre lembro do antigo seriado do Batman, que passava na TV. O Charada tinha um superpoder maravilhoso: ele abria o livro, encostava a mão, e absorvia todo o conhecimento que estava nas páginas. Eu quero!
23 de set. de 2010
Quantos anos você tem?
Essa semana participei de um seminário no IFCS sobre Corpo, Envelhecimento e Felicidade, organizado pela antropóloga Mirian Goldenberg. Foram dois dias de mesas e palestras sobre identidade, imagens sobre velhice, políticas públicas, padrões estéticos. Foi muito interessante. E calhou de ser uma semana antes do meu aniversário. Faço 29 anos dia 29 (Uhu! Parabéns pra mim!), e essa aproximação dos 30 tem sido um assunto recorrente na minha análise.
Não, eu não tô grilada com envelhecimento, me acho nova, aliás, muito nova. Pra mim, uma mulher de 30 anos é uma mulher madura, experiente, responsável, sei lá! Eu não me sinto assim. Talvez seja o vestígio de um imaginário adolescente, de que aos 30 já se é muita coisa, seja lá o que esse "muita coisa" signifique.
Na viagem pra Polônia e Israel o grupo era de muitas idades diferentes. Eu era uma das mais velhas, mas fiquei muito mais próxima da galera de 22-24. Esses novos amigos estão na graduação, moram com os pais e muitos são estagiários. E isso não fez a menor diferença. Saio com eles pra night, topo e participo de todas as brincadeiras, rimos muito juntos. Ao mesmo tempo alguns dos meus melhores amigos estão na faixa dos 50. E fazemos as mesmas coisa, vamos pra night, conversamos e rimos muito.
E eu fico me perguntando o porquê dessa questão dos 30 anos. O que eu deveria estar fazendo que não estou? Eu deveria estar fazendo alguma coisa? Qual é diferença da Mila com 29, 20 ou 16? Eu ainda me lembro bem de como era ter 16. As sensações, os medos, as delícias ainda estão claros na minha memória. Foi outro dia. Como eu posso ser essa mulher-madura-no-auge?
Acompanhei algumas amigas na chamada crise dos 30, quando eu tinha 20 e pouquinhos. Só que os dramas eram querer casar, querer ter filhos, essas coisas. Eu já casei e já separei, não sei se quero ter filhos, já morei sozinha, já trabalhei muito. Agora eu quero outras coisas.
Já ouvi vários depoimentos de idosos que se assustam em frente ao espelho, que não sentem a idade que realmente têm. Talvez seja isso. Só que eu me assusto é com as velas do bolo.
4 de ago. de 2010
Aconteceu.
Cheguei de viagem. Não sei nem se já posso escrever, se caiu a ficha de tudo o que eu vi lá, mas enfim, vou tentar.
Uma viagem como essa não é fácil. Desde o tema, passando por viajar em grupo, o calor, o preço da cerveja. Mas foi uma viagem foda. Inesquecível.
O primeiro lugar que mexeu muito comigo foi Majdaneck. Majdaneck é um campo de concentração e extermínio que está pronto pra uso. Sério, se quisessem reativar levaria no máximo uma hora. Assustador. Entramos nas câmaras de gás, nos fornos crematórios, vimos os sapatos, as malas, restos de vida. Só que até aí estava "tudo bem". Explico, Majdaneck, como a maioria dos campos, virou um museu. Tem sua museografia, dá pra perceber a lógica que quiseram passar a partir da exposição das peças, dos restos. Não que seja fácil, é assustador, mas estávamos observando de fora.
Em um determinado momento o Michel, nosso coordenador acadêmico, pediu à Julia para ler um trecho do É Isto um Homem?, do Primo Levi. Na passagem ele fala que Deus não existe nos Campos. Eu desabei.
Li o livro antes da viagem, e imaginei milhões de coisas na descrição dos campos. De repente eu estava em um. Não o que ele sobreviveu, mas isso não importa. Estava em um Campo de Extermínio onde vidas eram jogadas fora como quem apaga um cigarro. Era real.
Não sabia explicar porque eu estava chorando. Pelos mortos? Pela crueldade? Não sei. Só sei que chorava sem parar. No fim do dia, quando o grupo se reuniu pra discutir o que vimos, eu só consegui dizer que estava com raiva. Fiquei com raiva de deus, da fé, apesar de não acreditar nele. Por mais que as religiões falem em livre arbítrio, como um deus pôde permitir essa barbárie?
Foi uma das muitas reações que tive durante a viagem na Polônia. Dá tristeza, raiva, sensação de impotência, um turbilhão de sentimentos
Mas sei que não tem nada de extra-terrestre, místico ou Deus no Holocausto. Foi feito por homens e mulheres, por uma sociedade. E talvez isso seja o mais difícil de entender.
7 de jul. de 2010
A viagem!
Faltam 5 dias. To histérica. Tem mala pra fazer, biquíni pra comprar, pé, mão, taxi pro aeroporto, avião. Tá foda.
E tem a viagem em si. Vai mexer muito comigo, tenho certeza. A Polônia, a história do passado. Israel, a história contínua.
Enfim, isso tudo pra dizer que vou escrever em dois blogs na viagem. Um sobre o nosso dia a dia, contando o que vimos, o que sentimos, o que passamos. Leiam aqui: Yad Vaed
O outro, uma delícia de brincadeira que pretendo manter com meu amigo Dan Dayan, onde vamos falar das comidas e das bebidas que provarmos durante esse tempo, as boas e as ruins: Yad BeBira
Ah, e o Yad Vaed agora tem twitter, sigam-nos em @yadvaed
21 de jun. de 2010
#yadvaed10
Fim de semana passado fui à Friburgo para um seminário do Yad Vaed, três semanas antes da viagem para Polônia e Israel. Se a cada aula eu saio com a cabeça fervilhando, imagine depois de um fim de semana inteiro falando sobre Holocausto? É foda.
Mas a grande lição do seminário, pra mim, foi o grupo. Somos 30 jovens, entre 19 e 30 anos, com perfis completamente diferentes. Mas estamos juntos no projeto, e precisamos um dos outros, especialmente na viagem.
Viver em grupo não é fácil. Meus grupos de amigos eu fui escolhendo na vida, de acordo com afinidade, gostos, etc. Esse grupo não, esse grupo foi selecionado por outras pessoas. E tá dando certo.
Eu sou da farra, da piada, da brincadeira. Em certos momentos me senti quase uma adolescente, o que é uma delícia. E olha que eu sou uma das mais velhas. Boto pilha do chope, do violão, dos jogos. Aqui vale a máxima que me ensinaram na faculdade, na verdade no bar ao lado da faculdade: Comunicação não se faz só na sala de aula. Essa troca que acontece depois das aulas é muito importante também.
Eu não conseguiria viver isso sozinha. Tem gente que consegue. Eu preciso das risadas coletivas, da cumplicidade, do momento de falar besteira. Preciso de momentos de felicidade. E estamos conseguindo isso. É tão bacana ver que de grupo estamos nos tornando amigos.
Na Polônia faremos algumas homenagens aos mortos no Holocausto. Mas eu acho que a maior homenagem a gente já está fazendo. Estamos vivos, sobrevivemos, e mesmo com todo o horror do passado, conseguimos momentos felizes.
10 de jun. de 2010
Os "motivos" de Hitler
Essa semana li um post no Facebook de um amigo, sobre um funk chamado Faixa de Gaza, fazendo apologia ao Comando Vermelho. Ele questionava se o Celso Amorim ou o Cabral iam intervir no conflito.
Um desavisado postou um comentário dizendo assim: Hitler deveria ter os seus motivos na época. Me chocou, mas fui calmamente responder, dizendo que ele estava confundido as coisas, que as motivações de Hitler, dentre outras coisas, eram baseadas num mito antissemita comum na europa e no mundo, e que NADA, absolutamente nada justifica o Holocausto.
A partir daí a discussão foi tanta que o post recebeu 76 comentários. A maioria sensata, dizendo que não dá pra dizer nunca que Hitler teria "seus motivos", mas alguns relativizando e comparando com a postura do Estado de Israel, fazendo a confusão habitual entre judeus e Governo de Israel.
E isso me assusta. Primeiro porque a ignorância é a base pra todo preconceito. Se o outro é diferente, se não é meu "igual", se eu não me reconheço, eu posso ignorar, ou pior, odiar.
Segundo porque o Holocausto está ficando cada vez mais distante, vai virando história. Somos a última geração que pode conversar com pessoas que viveram o inimaginável, que têm seus braços tatuados com números, que viveram uma das maiores atrocidades já cometidas pela humanidade.
Estou estudando Holocausto há 4 meses. Em julho vou visitar os Campos de Concentração na Polônia e, depois, em Israel, participo de seminários sobre o legado e sobre chacinas étnicas atuais. E antes que alguém venha com aquele papo de que os judeus não esquecem esse sofrimento ou usam como justificativa para tudo, explico: O HOLOCAUSTO NÃO É UMA QUESTÃO JUDAICA, É UMA QUESTÃO DA HUMANIDADE.
Em caps, gritando mesmo!
Sempre existiram chacinas étnicas horríveis, o ser humano é bicho violento e estúpido, mas o Holocasuto se diferencia de outras chacinas por algumas questões pontuais e muito sérias. Um Estado com uma produção intelectual brilhante, um lugar onde floresciam novas idéias, colocou todo esse pensamento racional com o objetivo de exterminar alguns grupos de pessoas. Morte de maneira industrial.
No início, o extermínio era como qualquer outro, armas de fogo e banho de sangue. Mas, mesmo para um soldado nazista, as imagens da violência ficavam presas na memória. Não é normal assassinar um ser humano. Há casos em que os nazistas, em 24 horas, assassinaram 30 mil pessoas. Colocavam-nas na frente de uma vala e iam atirando, com revezamento dos pelotões. Dá pra imaginar a quantidade de sangue? Eu não consigo. Não tem como não ficar um trauma de alguma forma.
Era preciso uma forma de extermínio mais eficaz, que não impactasse no soldado e desse mais resultados. Os cientistas, estrategistas, as cabeças pensantes do Nacional Socialismo se reuniram para criar esse método, e alcançaram o objetivo.
Sempre me perguntei como os soldados alemãs conseguiam conviver com si próprios, como era possível acordar, tomar café, escrever cartas pra mãe ou pra esposa, e depois mandar milhares de seres humanos pra câmaras de gás.
A estratégia nazista foi desumanizar os prisioneiros. Não existiam nomes, e sim números. Não havia rostos, e sim uma população inteira com cabelos raspados, raquíticos pela fome, com um mesmo uniforme. E quem levava para o crematório os cadáveres dos assassinados nas câmaras de gás eram os próximos da fila. E o gás, também foi desenvolvido por eles! Uma estratégia extremamente eficaz.
Por isso não dá pra esquecer. É tão importante que a gente se lembre como a humanidade conseguiu chegar a esse ponto pra nunca, nunca mais repetir. Posso até estar estudando porque eu sou judia, mas o holocausto me dói porque sou humana.
PS. Quem quiser acompanhar as aulas via Twitter é só procurar por #yadvaed10, e toda segunda a partir de 20h30 eu to tuittando.
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