21 de jun. de 2010

#yadvaed10

Fim de semana passado fui à Friburgo para um seminário do Yad Vaed, três semanas antes da viagem para Polônia e Israel. Se a cada aula eu saio com a cabeça fervilhando, imagine depois de um fim de semana inteiro falando sobre Holocausto? É foda.

Mas a grande lição do seminário, pra mim, foi o grupo. Somos 30 jovens, entre 19 e 30 anos, com perfis completamente diferentes. Mas estamos juntos no projeto, e precisamos um dos outros, especialmente na viagem.

Viver em grupo não é fácil. Meus grupos de amigos eu fui escolhendo na vida, de acordo com afinidade, gostos, etc. Esse grupo não, esse grupo foi selecionado por outras pessoas. E tá dando certo.

Eu sou da farra, da piada, da brincadeira. Em certos momentos me senti quase uma adolescente, o que é uma delícia. E olha que eu sou uma das mais velhas. Boto pilha do chope, do violão, dos jogos. Aqui vale a máxima que me ensinaram na faculdade, na verdade no bar ao lado da faculdade: Comunicação não se faz só na sala de aula. Essa troca que acontece depois das aulas é muito importante também.

Eu não conseguiria viver isso sozinha. Tem gente que consegue. Eu preciso das risadas coletivas, da cumplicidade, do momento de falar besteira. Preciso de momentos de felicidade. E estamos conseguindo isso. É tão bacana ver que de grupo estamos nos tornando amigos.

Na Polônia faremos algumas homenagens aos mortos no Holocausto. Mas eu acho que a maior homenagem a gente já está fazendo. Estamos vivos, sobrevivemos, e mesmo com todo o horror do passado, conseguimos momentos felizes.


10 de jun. de 2010

Os "motivos" de Hitler

Essa semana li um post no Facebook de um amigo, sobre um funk chamado Faixa de Gaza, fazendo apologia ao Comando Vermelho. Ele questionava se o Celso Amorim ou o Cabral iam intervir no conflito.

Um desavisado postou um comentário dizendo assim: Hitler deveria ter os seus motivos na época. Me chocou, mas fui calmamente responder, dizendo que ele estava confundido as coisas, que as motivações de Hitler, dentre outras coisas, eram baseadas num mito antissemita comum na europa e no mundo, e que NADA, absolutamente nada justifica o Holocausto.

A partir daí a discussão foi tanta que o post recebeu 76 comentários. A maioria sensata, dizendo que não dá pra dizer nunca que Hitler teria "seus motivos", mas alguns relativizando e comparando com a postura do Estado de Israel, fazendo a confusão habitual entre judeus e Governo de Israel.

E isso me assusta. Primeiro porque a ignorância é a base pra todo preconceito. Se o outro é diferente, se não é meu "igual", se eu não me reconheço, eu posso ignorar, ou pior, odiar.

Segundo porque o Holocausto está ficando cada vez mais distante, vai virando história. Somos a última geração que pode conversar com pessoas que viveram o inimaginável, que têm seus braços tatuados com números, que viveram uma das maiores atrocidades já cometidas pela humanidade.

Estou estudando Holocausto há 4 meses. Em julho vou visitar os Campos de Concentração na Polônia e, depois, em Israel, participo de seminários sobre o legado e sobre chacinas étnicas atuais. E antes que alguém venha com aquele papo de que os judeus não esquecem esse sofrimento ou usam como justificativa para tudo, explico: O HOLOCAUSTO NÃO É UMA QUESTÃO JUDAICA, É UMA QUESTÃO DA HUMANIDADE.

Em caps, gritando mesmo!

Sempre existiram chacinas étnicas horríveis, o ser humano é bicho violento e estúpido, mas o Holocasuto se diferencia de outras chacinas por algumas questões pontuais e muito sérias. Um Estado com uma produção intelectual brilhante, um lugar onde floresciam novas idéias, colocou todo esse pensamento racional com o objetivo de exterminar alguns grupos de pessoas. Morte de maneira industrial.

No início, o extermínio era como qualquer outro, armas de fogo e banho de sangue. Mas, mesmo para um soldado nazista, as imagens da violência ficavam presas na memória. Não é normal assassinar um ser humano. Há casos em que os nazistas, em 24 horas, assassinaram 30 mil pessoas. Colocavam-nas na frente de uma vala e iam atirando, com revezamento dos pelotões. Dá pra imaginar a quantidade de sangue? Eu não consigo. Não tem como não ficar um trauma de alguma forma.

Era preciso uma forma de extermínio mais eficaz, que não impactasse no soldado e desse mais resultados. Os cientistas, estrategistas, as cabeças pensantes do Nacional Socialismo se reuniram para criar esse método, e alcançaram o objetivo.

Sempre me perguntei como os soldados alemãs conseguiam conviver com si próprios, como era possível acordar, tomar café, escrever cartas pra mãe ou pra esposa, e depois mandar milhares de seres humanos pra câmaras de gás.

A estratégia nazista foi desumanizar os prisioneiros. Não existiam nomes, e sim números. Não havia rostos, e sim uma população inteira com cabelos raspados, raquíticos pela fome, com um mesmo uniforme. E quem levava para o crematório os cadáveres dos assassinados nas câmaras de gás eram os próximos da fila. E o gás, também foi desenvolvido por eles! Uma estratégia extremamente eficaz.

Por isso não dá pra esquecer. É tão importante que a gente se lembre como a humanidade conseguiu chegar a esse ponto pra nunca, nunca mais repetir. Posso até estar estudando porque eu sou judia, mas o holocausto me dói porque sou humana.




PS. Quem quiser acompanhar as aulas via Twitter é só procurar por #yadvaed10, e toda segunda a partir de 20h30 eu to tuittando.

3 de jun. de 2010

Segunda foi um dia triste

Na segunda e na terça estive no Seminário de Cultura Digital promovido pela SEC-RJ. Enquanto tuittava o seminário ia lendo as notícias sobre o ataque isralense ao navio que tentou furar o bloqueio de Gaza. E fiquei com muita vontade de chorar.

Foi uma merda, uma grande cagada, é só o que posso dizer. Sei que as coisas não são preto no branco como muitos gostam de acreditar. É muito fácil e simplista acreditar que só um lado está certo, e por isso eu quero dizer tanto o radicalismo de uma galera da esquerda quanto de uma postura Israel-está-sempre-certo de alguns amigos.

Mas o que me deixou mal foi ler na internet comentários antissemitas assustadores. No Twitter achei coisas como "judeu bom é judeu morto", "judeus controlam a economia do mundo", "os judeus estão matando o povo palestino."

Em primeiro lugar há que se entender a diferença entre Israel e os judeus. Israel é um Estado Nação, assim como o Brasil. Os cidadãos de Israel são os isralenses.
Sim, Israel é o Estado judeu, mas isso não siginifca que todo judeus seja israelense, nem que todo judeu ou israelense concorde com a política adotada pelo governo.

Eu sou brasileira, judia, mulher, flamenguista e mais uma série de outras coisas. Por favor, não me coloquem em rótulos generalistas nem assumam que eu penso assim ou assado por causa disso. Pensem.