Essa semana li um post no Facebook de um amigo, sobre um funk chamado Faixa de Gaza, fazendo apologia ao Comando Vermelho. Ele questionava se o Celso Amorim ou o Cabral iam intervir no conflito.
Um desavisado postou um comentário dizendo assim: Hitler deveria ter os seus motivos na época. Me chocou, mas fui calmamente responder, dizendo que ele estava confundido as coisas, que as motivações de Hitler, dentre outras coisas, eram baseadas num mito antissemita comum na europa e no mundo, e que NADA, absolutamente nada justifica o Holocausto.
A partir daí a discussão foi tanta que o post recebeu 76 comentários. A maioria sensata, dizendo que não dá pra dizer nunca que Hitler teria "seus motivos", mas alguns relativizando e comparando com a postura do Estado de Israel, fazendo a confusão habitual entre judeus e Governo de Israel.
E isso me assusta. Primeiro porque a ignorância é a base pra todo preconceito. Se o outro é diferente, se não é meu "igual", se eu não me reconheço, eu posso ignorar, ou pior, odiar.
Segundo porque o Holocausto está ficando cada vez mais distante, vai virando história. Somos a última geração que pode conversar com pessoas que viveram o inimaginável, que têm seus braços tatuados com números, que viveram uma das maiores atrocidades já cometidas pela humanidade.
Estou estudando Holocausto há 4 meses. Em julho vou visitar os Campos de Concentração na Polônia e, depois, em Israel, participo de seminários sobre o legado e sobre chacinas étnicas atuais. E antes que alguém venha com aquele papo de que os judeus não esquecem esse sofrimento ou usam como justificativa para tudo, explico: O HOLOCAUSTO NÃO É UMA QUESTÃO JUDAICA, É UMA QUESTÃO DA HUMANIDADE.
Em caps, gritando mesmo!
Sempre existiram chacinas étnicas horríveis, o ser humano é bicho violento e estúpido, mas o Holocasuto se diferencia de outras chacinas por algumas questões pontuais e muito sérias. Um Estado com uma produção intelectual brilhante, um lugar onde floresciam novas idéias, colocou todo esse pensamento racional com o objetivo de exterminar alguns grupos de pessoas. Morte de maneira industrial.
No início, o extermínio era como qualquer outro, armas de fogo e banho de sangue. Mas, mesmo para um soldado nazista, as imagens da violência ficavam presas na memória. Não é normal assassinar um ser humano. Há casos em que os nazistas, em 24 horas, assassinaram 30 mil pessoas. Colocavam-nas na frente de uma vala e iam atirando, com revezamento dos pelotões. Dá pra imaginar a quantidade de sangue? Eu não consigo. Não tem como não ficar um trauma de alguma forma.
Era preciso uma forma de extermínio mais eficaz, que não impactasse no soldado e desse mais resultados. Os cientistas, estrategistas, as cabeças pensantes do Nacional Socialismo se reuniram para criar esse método, e alcançaram o objetivo.
Sempre me perguntei como os soldados alemãs conseguiam conviver com si próprios, como era possível acordar, tomar café, escrever cartas pra mãe ou pra esposa, e depois mandar milhares de seres humanos pra câmaras de gás.
A estratégia nazista foi desumanizar os prisioneiros. Não existiam nomes, e sim números. Não havia rostos, e sim uma população inteira com cabelos raspados, raquíticos pela fome, com um mesmo uniforme. E quem levava para o crematório os cadáveres dos assassinados nas câmaras de gás eram os próximos da fila. E o gás, também foi desenvolvido por eles! Uma estratégia extremamente eficaz.
Por isso não dá pra esquecer. É tão importante que a gente se lembre como a humanidade conseguiu chegar a esse ponto pra nunca, nunca mais repetir. Posso até estar estudando porque eu sou judia, mas o holocausto me dói porque sou humana.
PS. Quem quiser acompanhar as aulas via Twitter é só procurar por #yadvaed10, e toda segunda a partir de 20h30 eu to tuittando.