24 de mai. de 2010

Um post curto sobre a morte.

Voltei do trabalho hoje conversando com um amigo que acaba de perder uma pessoa muito próxima, por conta de um câncer. Esses momentos são tão complicados, porque a gente nunca sabe direito o que falar, como reagir. A relação com a morte é tão complicada e pessoal que eu nunca sei como me portar.

Na minha família materna, graças ao humor dos fucs, sempre fizemos piada com tudo, inclusive a morte. No enterro da minha tia avó ríamos tanto que foi constragedor pra alguns (mas claro, estou falando de uma pessoa idosa que morreu, não de um acidente trágico). Isso não significa que ninguém estava sentido a perda, mas lidamos de outro jeito.

Minha avó Dina, a mulher mais sensata que já conheci, resolveu comprar, junto com duas amigas, o próprio túmulo no cemitério de vila Rosaly. Ela no meio, porque as duas amigas brigavam muito! Rs... Minha mãe outro dia chegou em casa com uma novidade:

- Mila, não quero mais ser cremada! Descobri que você pode doar meu corpo pra uma escola de medicina, acho muito melhor alguém poder aproveitar o resto!!

E eu realmente achei ótimo, só me preocupa o trabalho e a burocracia que ela vai me arrumar, porque não deve ser uma coisa muito fácil no Brasil, doar a mãe.

22 de mai. de 2010

A doce vida da Maria Angélica

Eu amo uma mesa de bar. Ficar horas sentada, tomando cerveja, conversando, discutindo, a boemia me seduz de uma forma inexplicável. Desde criança sempre fui da noite e da farra. O Natal na casa da Vovó só começava as 22h, a ceia varava a madrugada. No início da adolescência adorava ir com minha mãe à peça que ela estava em cartaz, menos para ver o espetáculo, e mais para poder sair depois da peça. Eram noites divertidíssimas na Trattoria em que o Charles me deixava tomar cerveja escondido dela.

Quando li o livro da Gabriela Leite, Filha, Mãe, Avó e Puta me identifiquei com a passagem na qual ela fala da juventude em São Paulo, quando queria ficar na noite, nos bares e detestava ter que trabalhar cedo. O Bar é um espaço mágico, um misto de clube com parque de diversões. É muito mais do que uma boa cerveja, um salgadinho maravilhoso ou um banheiro decente. É o momento que se vive ali.

No meu clubinho atual, o Rebouças, por um acaso, tem tudo isso. A cerveja eu consegui, depois de muito encher a paciência do Seu Alberto, que fosse Heineken. O bolinho de camarão é um dos melhores do Rio, e o banheiro ótimo. Mas além disso tem a galera.

Fui me aproximando devagar, desde que voltei a morar no JB. Um boa noite aqui, um alô ali, conhecidos em comum, até que fui "aceita". Tem gente de todo o tipo, todas as idades, de vidas completamente diferentes, mas é um grupo. E como grupo é extremamente solidário.

Me lembro exatamente do dia que percebi que havia sido convidada a participar. Fui chamada pro churrasco de despedida de um dos frequentadores, que voltaria pra Portugal. Um churrasco na rua, de tarde, onde cada um trouxe um ingrediente. Uma delícia, quase um clima subúrbio na mesma rua onde fica o Mr. Lam e ao lado do Olympe!

Hoje em dia é impossível não parar no bar - até porque é caminho de casa - nem que seja só pra dar um oi. Faz parte da dinâmica de pertencimento do clube. Se alguém não aparece por um tempo a ausência é sentida. Se está doente, viajou, um fica sabendo e avisa aos outros. Se bebeu demais, fez merda, não tem problema. Tem sempre alguém disposto a dar uma água ou oferecer uma carona. São pessoas que já se tornaram muito queridas, e que no mundo lá fora, talvez, eu nunca conhecesse. E eu adoro conhecer pessoas!

Tem gente que faz aula de pilates, tem gente que faz grupo de estudo, eu, eu vou ao botequim.

19 de mai. de 2010

Shavuot

Ontem foi Shavuot, uma festa judaica onde comemora-se o recebimento da Torá. A mitzvá é ficar estudando até tarde.
O Hillel Rio, como sempre, fez uma comemoração à sua maneira, com discussões, filmes, etc. Fui lá só dar um alô e acabei entrando na sala dos Rabinos da Ari, Dario e Margules. E não é que foi sensacional? Um debate franco, aberto, sobre tradição e modernidade, passando por Mcluhan! Um daqueles momentos que me faz perceber porque eu gosto tanto de frequentar a casa.

Explico: sou judia simplesmente por um acaso de ter nascido de uma mãe judia, que por um outro acaso nasceu de outra mãe judia. Sou secular, não sigo a religião e não acredito em Deus. Mas tem essa coisa de povo e cultura que é maravilhosa. O meu judaísmo eu pratico assim, na discussão, na leitura.
Lembrei de um dia no Rebouças em que a Debora Colker estava falando o porque dela adorar ser judia: porque no centro da sinagoga a coisa mais importante é um livro.

Uma vez, numa aula do Rabino Dario, ele falava sobre a mezuzá, de como algumas pessoas a colocam na porta, achando que só isso basta para caracterizar um lar judaico, e se esqueciam dos livros. A Mezuzá não tem poderes mágicos, a prática desse judaísmo vem do dia-a-dia, com leituras e estudos.
E eu, que não tinha mezuzá na porta por não achar importante (talvez quando começarem a cair rãs do céu) achei fantástico. Ler, estudar, é fundamental pra qualquer ser humano.

E se não-deus quiser eu vou passar no mestrado!

Tudo novo de novo.

Vamos lá. Mais uma vez, pela enésima vez, uma tentativa de ter um blog.
Não é um blog sobre cerveja, nem é um blog sobre judaísmo, apesar dos temas me interessarem muito.
É, na verdade, um exercício de escrita, coisa que devia ter começado há muito tempo. E vamos torcer pra dar certo.